Já em jovem tinha "amassado muito pão" com uma tia sua. Décadas depois, Lília Contente, de 41 anos, e o seu marido, Avelino dos Santos, de 49, trocaram na quase totalidade uma actividade profissional dedicada à lavoura, para abrir uma padaria. E fizeram-no em Novembro de 2010, data da sua entrada em funcionamento.
Pão pesado,
preenchido
De segunda a sexta-feira, o casal repete, de forma metódica, rotinas e rituais que fazem deste um "pão diferente". Assim explica à revista "Olhar o Mundo Rural" Lília Contente: "é um pão pesado. O nosso pão de trigo, de 950 gramas, leva muitos ingredientes. Fica muito preenchido".
A receita? Diz-nos que acabou por ser ela própria a dar-lhe autoria com base nos melhores conselhos e nas melhores receitas que recebeu: "com uma dica de uma pessoa e uma dica de outra, fiz a minha própria receita. Tirei o melhor do que fui aprendendo".
"Há quem goste do nosso pão para fazer as sopas do Espírito Santo", pormenoriza, "há quem diga que não pode comprar o nosso pão sempre porque acaba por comê-lo só com manteiga e há que manter a linha…", acrescenta, rindo-se.
Mas até chegar ao actual sabor, consistência e volume, Lília Contente refere que, longe da sua primeira experiência com pão no seu tempo de moça, teve de reaprender o ofício: "foi redescobrir o fabrico do pão". Isto porque, conta, antes de sequer aventurar-se numa produção constante, esteve dois anos a praticar "até o pão sair-me como eu queria".
"As pessoas apreciam muito o pão, e não podia arriscar cozer pão que não ficasse sempre bom".
Negócio em
crescimento
Entre a segunda e a quinta-feira, a Padaria de São Mateis coze cerca de 120 pães por dia, valor que nas vésperas do descanso do fim-de-semana, na sexta-feira, cresce para 150 pães/dia, com previsão para prolongarem a produção ao sábado.
Lídia Contente e Avelino dos Santos referem que o seu é um "negócio em crescimento": "as pessoas têm gostado do pão e estamos a colocá-lo à venda em cada vez mais sítios".
Para já, o pão, além de poder ser comprado na própria da Padaria de São Mateus, é encontrado em locais como o mercado municipal de Angra do Heroísmo, em mercearias de algumas freguesias e vai chegar às grandes superfícies comerciais.
O objectivo é cozerem entre 300 a 350 pães por dia. O dobro. Uma meta que estão a preparar, até porque têm nos seus planos, além do fabrico deste pão de trigo caseiro, a produção de pão de milho, pão-de-leite e massa sovada, não ficando a doçaria esquecida.
Mas para já, a concentração, a energia e os recursos vão para o pão de trigo: "tem valido a pena e tem havido mercado. Cada pão tem as suas qualidades, mas o nosso pão é diferente, na textura e no sabor, dos que existem à venda".
Venda de
Produtos rurais
Mas o casal não esconde um sonho há muito acalentado, um projecto profissional mais alargado, já com própria infraestrutura criada – além do espaço de preparação e cozedura do pão, há uma zona preparada para venda, espaço para refeições ligeiras – o de juntar a panificação e o da agricultura biológica que sempre acompanhou os afazeres de Avelino dos Santos. Fruta, legumes e plantas aromáticas, produzidas de modo biológico, são cultivadas nos seus terrenos e "poderiam", referem, ser comercializadas para "que as pessoas possam ter acesso aos melhores produtos que existem nos meios rurais. Hoje as pessoas preocupam-se mais com o que comem, e os produtos biológicos são uma garantia de qualidade".
Pão fresco, produtos hortofrutícolas e plantas aromáticas aromáticas poderiam transformar o espaço numa venda de sabores tradicionais, dar a conhecer a padaria e valorizar igualmente a vivência e o meio rural.
A "Padaria de São Mateus", bem identificada através de um letreiro que dá boas vindas na Terra Alta, n.º 11, na freguesia de São Mateus, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, dá a conhecer esta pequena unidade fabril de panificação onde se coze pão de forma caseira, "à moda antiga", com o carinho do forno de lenha a envolver cada fornada.
Trata-se de uma mico-empresa, de caráter familiar, que surgiu através de um investimento co-financiado pelo PRORURAL, apoiado por via da GRATER, no valor global de certa de 100 mil euros.